Notícias do front de um Planeta-em-Colapso @ A Casa de Vidro
Após mais um fiasco retumbante, a COP29 – a Conferência das Nações Unidas sobre a assim-chamada “crise climática” – encerrou-se no petro-Estado do Azerbaijão neste 2024, ano mais quente já registrado. Diante dos resultados pífios, “rage” (against the Machine?) é o que a audaz Greta nos recomenda. Se você não está revoltado, você não está prestando a atenção.
Assim como na edição anterior, em Dubai, não faltou forte presença do lobby do combustível fóssil, nem teve escassez de políticos voando de jatinho para o evento para desperdiçar em lenga-lenga o escasso tempo que temos para pôr o devido freio à ebulição climática.
Os relatos que nos chegam de Baku indicam o continuísmo da exploração e queima de petróleo triunfando mais uma vez, assim como a manutenção de um “business as usual” suicida, e de ainda insuficientes incentivos para a transição energética.
ÁRVORE – SER TECNOLÓGICO: Dados levantados pela coalizão internacional #KickBigPollutersOut (KBPO):
– Mais de 1.700 lobistas de combustíveis fósseis estão participando da COP29 – um número que só perde para as delegações de países como Azerbaijão (anfitrião da COP29), Brasil (que sediará a COP30) e Turquia. É sério: há mais lobistas de combustíveis fósseis do que delegados de todas as dez nações mais vulneráveis combinadas!
– Esses grandes poluidores estão usando o evento para empurrar suas agendas corporativas e manter o mundo dependente de combustíveis fósseis. Isso acontece à custa das comunidades mais impactadas pela crise climática, que têm suas vozes silenciadas enquanto enfrentam problemas que não causaram.
– E pior: essas empresas, como Chevron, ExxonMobil, BP, Shell e Eni, também estão envolvidas em tragédias humanitárias. Elas literalmente abastecem a máquina de guerra de Israel, que perpetua o genocídio do povo palestino. Enquanto promovem lucros, destroem vidas.
– Muitos desses lobistas entram na COP29 representando grupos comerciais de combustíveis fósseis. Por exemplo, a IETA, com sede em Genebra, levou 116 pessoas, incluindo representantes da Shell e TotalEnergies. Esse é só mais um exemplo de como a indústria atrasa ações climáticas reais.
– Enquanto isso, comunidades do Sul Global enfrentam perigos e riscos de vida que não causaram. Isso é ético? Não. É sustentável? Também não.
– A COP29 deveria ser um momento de reinicialização. É hora de construir um novo modelo de ação climática que funcione para as pessoas e não para os grandes poluidores. Um modelo que restaure a natureza em vez de destruí-la.
Saiba mais:
Kick Big Polluters Out: https://kickbigpollutersout.org
Tudo isso enquanto o Brasil prepara-se para sediar “COP Amazônica”, daqui a um ano, em Belém do Pará, com o governo Lula podendo provar ao mundo se é de fato, como muito apregoado pelo mesmo, um dos poucos no planeta que levam a sério a catástrofe em curso que nos encaminha pra uns 3 graus Celsius de temperatura mais quente ainda neste século.
Para surpresa de quase ninguém, após Baku a catástrofe climática global segue sem resposta à altura da “comunidade internacional” (ela mesma fracassando, nos últimos 400 dias, em pôr fim e freio à matança de magnitude genocidária que Israel e seus parceiros promovem na Palestina e no Líbano).
Para Greta Thunberg, o desfecho da COP29 é um “completo desastre” e “mesmo que nossas expectativas fossem perto de não existentes, nós nunca devemos reagir a estas contínuas traições com nada senão raiva / revolta (rage).” Escreveu a ativista sueca em um post de seu Instagram q já ultrapassou 178.000 curtidas:
“As the COP29 climate meeting is reaching its end, it should not come as a surprise that yet another COP is failing. The current draft is a complete disaster. But even if our expectations are close to non-existent, we must never ever find ourselves reacting to these continuous betrayals with anything but rage;
The people in power are yet again about to agree to a death sentence to the countless people whose lives have been or will be ruined by the climate crisis. The current text is full of false solutions and empty promises. The money from the Global North countries needed to pay back their climate debt is still nowhere to be seen. The host country – Azerbaijan – is a repressive and authoritarian petro-state that has committed ethnic cleansing and genocidal acts towards Armenians. Civil society present at COP29 are being silenced, yet continue fighting and pushing negotiators towards the bare minimum. All this while oppression, inequalities, wars and genocides all over the world continue to intensify. Those in power are worsening the destabilisation and destruction of our life supporting ecosystems. We are on track to experience the hottest year ever recorded, with the global greenhouse gases reaching an all time high just last year.
It is clear that our current systems are not working in our favour. The COP processes aren’t just failing us, they are part of a larger system built on injustice and designed to sacrifice current and future generations for the opportunity of a few to keep making unimaginable profits and continue to exploit planet and people. With every negotiation, with every speech made by a world leader and with every agreement they sign, it becomes clear that it is up to us as a global collective to take the action we so desperately need and show where the leadership truly lies. They are not going to do it for us, as this COP29 yet again proves.
📸: @filippa.paperin
À medida que a reunião climática da COP29 chega ao fim, não deve ser surpresa que mais uma COP esteja fracassando. O rascunho atual é um desastre completo. Mas mesmo que nossas expectativas sejam quase inexistentes, nunca devemos reagir a essas traições contínuas com nada além de raiva.
As pessoas no poder estão mais uma vez prestes a concordar com uma sentença de morte para as inúmeras pessoas cujas vidas foram ou serão arruinadas pela crise climática. O texto atual está cheio de falsas soluções e promessas vazias. O dinheiro dos países do Norte Global necessário para pagar sua dívida climática ainda não está em lugar nenhum. O país anfitrião – Azerbaijão – é um petroestado repressivo e autoritário que cometeu limpeza étnica e atos genocidas contra os armênios. A sociedade civil presente na COP29 está sendo silenciada, mas continua lutando e pressionando os negociadores para o mínimo necessário. Tudo isso enquanto a opressão, as desigualdades, as guerras e os genocídios em todo o mundo continuam a se intensificar. Aqueles no poder estão piorando a desestabilização e a destruição de nossos ecossistemas de suporte à vida. Estamos a caminho de vivenciar o ano mais quente já registrado, com os gases de efeito estufa globais atingindo um recorde histórico no ano passado.
Está claro que nossos sistemas atuais não estão funcionando a nosso favor. Os processos da COP não estão apenas falhando conosco, eles são parte de um sistema maior construído sobre injustiça e projetado para sacrificar as gerações atuais e futuras pela oportunidade de alguns continuarem obtendo lucros inimagináveis e continuarem a explorar o planeta e as pessoas. A cada negociação, a cada discurso feito por um líder mundial e a cada acordo que eles assinam, fica claro que cabe a nós, como um coletivo global, tomar as medidas de que precisamos tão desesperadamente e mostrar onde a liderança realmente está. Eles não farão isso por nós, como esta COP29 mais uma vez prova.
Greta Thunberg
Leia tb:
O ECO – Resultado da COP29 coloca diplomacia brasileira à prova: Em 2025, Brasil precisará pressionar nações por um novo financiamento climático. Meta aprovada na COP de Baku é 23 vezes menor que subsídios aos fósseis. Por Cristiane Prizibisczki. Acesse: https://oeco.org.br/reportagens/resultado-da-cop29-coloca-diplomacia-brasileira-a-prova
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UM SÓ PLANETA – Fracasso em Baku “aumenta ainda mais a responsabilidade sobre o Brasil, onde acontecerá a COP 30 em 2025, e também coloca em xeque o próprio processo de negociação da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima). “A cada conferência há dificuldades para alcançar consenso entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Apenas o artigo 6, do mercado de carbono, chegou a um acordo. Isso mostra o caminhar das negociações, no âmbito cada vez mais privado, com grande influência da indústria de óleo e gás, do mercado, das empresas. E as comunidades vulnerabilizadas, indígenas, negras, moradoras de regiões em risco de desaparecer, ficam cada vez mais à mercê da própria sorte.” Acesse: https://umsoplaneta.globo.com/sociedade/noticia/2024/11/28/cop-do-fracasso-brasileiras-criticam-acordo-final-da-cop-29-e-consideram-valor-insuficiente.ghtml
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GRIST – https://grist.org/international/cop29-agreement-baku-new-collective-quantified-goal/
Publicado em: 27/11/24
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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